quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ao Invés

   Se tudo fosse real, não valeria a pena tentar. E ele não precisava acordar tão cedo. Enfim. Madrugadas frias o excitavam, a fim de que se fizesse mais do que durante o dia. Não foi tão diferente. As horas de um relógio para outro se diferenciam apenas nos minutos, raramente destacam-se os ponteiros. E não era nada de mais, e não era mesmo. Porém, um acaso fez com que toda a sua esperança se jogasse do nono andar, e com ela todo o resto que já era resto, não se utilizava mais. O desespero começou a bater. Já não se conseguia mais voltar a dormir. Aquela noite tinha algo que queria esconder, a perplexidade menosprezava todo o cenário, que ficava cada vez menos importante. E o que ficava eram as sombras das janelas. Gramaticalmente, era tudo mentira.
   E, se o errado passou a ser a preocupação com o irreal, já que não se sabia ao certo, era tudo questão de tempo - até que se voltasse a dormir. Com as mãos nos olhos, suando frio, colocou uma calça, se levantou, e tomou a decisão. Era dificílima, mas foi. As coisas não funcionavam como em sua cabeça. Mas, quando não se há mais nada a fazer, pensa-se na última coisa que se haveria de fazer, ainda que não faça sentido algum (fazer). Geralmente, essas horas, ele estaria acordando. Mas, não. Ele estava procurando em sua caixa de solidão, alguma lembrança na qual pudesse se afogar, e finalmente voltar a dormir. E em todas essas lembraças, estava justamente a que ele queria ao menos fazer adormecer. Ao menos rabiscar.
   Ele se deitou novamente, sozinho, dizendo em alta voz em sua mente: TALVEZ.

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